<b><font color=0094E0>Verdades incómodas</b></font>
Neste debate quinzenal com o primeiro-ministro, em que pertenceu à bancada comunista dar-lhe início e escolher os temas, voltou a ficar patente o esforço do Governo para, mistificando a realidade, encontrar forma de iludir os problemas e furtar-se às questões suscitadas. Não se esgotaram porém neste plano as suas dificuldades. Visível foi também o seu incómodo, extensivo à bancada socialista, perante a crítica dura e frontal do PCP. Desconforto que rapidamente descambou para a diatribe anticomunista, reacção própria de quem sente faltarem-lhe os argumentos e fugir-lhe a razão.
E nisso, registe-se, Sócrates parece estar a revelar-se um exímio praticante, embora, diga-se em abono da verdade, muito repetitivo, tal o recurso aos mesmos tiques e frases feitas.
Que o PCP «não está a pensar em defender os trabalhadores» mas sim apenas em «atacar o Governo do PS». Que o PCP sofre de «sectarismo político e de facciosismo político». Que o PCP «há trinta anos que quer dar lições sobre defesa dos trabalhadores aos outros». Que as acusações do PCP não passam de «slogans esquerdistas».
A realidade que dói
Mas o que é que Jerónimo de Sousa afirmou para obter, como resposta, afirmações deste jaez? Por ter dito que o Governo cumpriu o que prometera? Que a vida melhorou? Que o desemprego baixou ? Que as desigualdades diminuíram? Que o custo de vida não se agravou? Que os salários melhoraram? Que os direitos se consolidaram? Que as mexidas na legislação laboral são feitas a pensar no bem-estar e no futuro dos trabalhadores e suas famílias?
Claro está que nenhuma afirmação deste tipo podia ter sido proferida pelo Secretário-geral do PCP, pela razão simples de que nenhuma é verdadeira. O que perturbou o chefe do Governo e o que este não gostou de ouvir foi o líder comunista convidá-lo a «descer à terra» para se pronunciar sobre os «pesados sacrifícios (através dos seus salários) impostos aos trabalhadores, às reformas e pensões, aos pequenos rendimentos dos agricultores, dos pequenos e médios empresários». Foi ouvir verdades inquietantes como a de que o desemprego continua a crescer, de que o custo de vida começa a ser insuportável, designadamente com o aumento dos combustíveis (num ano subiram catorze vezes). Foi ouvir Jerónimo de Sousa desafiá-lo a explicar qual a razão que o leva a querer precarizar todos os trabalhadores «através da alteração da lei dos despedimentos e do conceito de inaptidão que dá para tudo».
Só propaganda
De Sócrates ou da bancada socialista, sobre estas questões concretas, pouco ou nada se ouviu. A opção foi outra. Contar pela enésima vez a história de que o PS quando chegou ao Governo encontrou o País «à beira de uma crise económica», enquanto hoje temos «contas públicas equilibradas».
E sobre as dificuldades, reconhecendo que existem, disse que «vêm de fora, geradas pela crise financeira nos EUA, que se reflecte na Europa, mas à qual a economia europeia e a portuguesa estão a resistir bem».
Quanto às alterações ao Código de Trabalho propostas pelo seu Governo, essas, segundo a perspectiva mistificadora de Sócrates, visam uma «revisão equilibrada», o que na linguagem da máquina de propaganda governamental significa combinar «flexibilidade» das empresas, menor «rigidez», «concertação» de horários de trabalho e «combate à precariedade».
E nisso, registe-se, Sócrates parece estar a revelar-se um exímio praticante, embora, diga-se em abono da verdade, muito repetitivo, tal o recurso aos mesmos tiques e frases feitas.
Que o PCP «não está a pensar em defender os trabalhadores» mas sim apenas em «atacar o Governo do PS». Que o PCP sofre de «sectarismo político e de facciosismo político». Que o PCP «há trinta anos que quer dar lições sobre defesa dos trabalhadores aos outros». Que as acusações do PCP não passam de «slogans esquerdistas».
A realidade que dói
Mas o que é que Jerónimo de Sousa afirmou para obter, como resposta, afirmações deste jaez? Por ter dito que o Governo cumpriu o que prometera? Que a vida melhorou? Que o desemprego baixou ? Que as desigualdades diminuíram? Que o custo de vida não se agravou? Que os salários melhoraram? Que os direitos se consolidaram? Que as mexidas na legislação laboral são feitas a pensar no bem-estar e no futuro dos trabalhadores e suas famílias?
Claro está que nenhuma afirmação deste tipo podia ter sido proferida pelo Secretário-geral do PCP, pela razão simples de que nenhuma é verdadeira. O que perturbou o chefe do Governo e o que este não gostou de ouvir foi o líder comunista convidá-lo a «descer à terra» para se pronunciar sobre os «pesados sacrifícios (através dos seus salários) impostos aos trabalhadores, às reformas e pensões, aos pequenos rendimentos dos agricultores, dos pequenos e médios empresários». Foi ouvir verdades inquietantes como a de que o desemprego continua a crescer, de que o custo de vida começa a ser insuportável, designadamente com o aumento dos combustíveis (num ano subiram catorze vezes). Foi ouvir Jerónimo de Sousa desafiá-lo a explicar qual a razão que o leva a querer precarizar todos os trabalhadores «através da alteração da lei dos despedimentos e do conceito de inaptidão que dá para tudo».
Só propaganda
De Sócrates ou da bancada socialista, sobre estas questões concretas, pouco ou nada se ouviu. A opção foi outra. Contar pela enésima vez a história de que o PS quando chegou ao Governo encontrou o País «à beira de uma crise económica», enquanto hoje temos «contas públicas equilibradas».
E sobre as dificuldades, reconhecendo que existem, disse que «vêm de fora, geradas pela crise financeira nos EUA, que se reflecte na Europa, mas à qual a economia europeia e a portuguesa estão a resistir bem».
Quanto às alterações ao Código de Trabalho propostas pelo seu Governo, essas, segundo a perspectiva mistificadora de Sócrates, visam uma «revisão equilibrada», o que na linguagem da máquina de propaganda governamental significa combinar «flexibilidade» das empresas, menor «rigidez», «concertação» de horários de trabalho e «combate à precariedade».